quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Dos Bijagós a Bissau de reboque

Nunca nos tinha calhado em sorte um cruzeiro nas ilhas dos Bijagós, apesar de alguns camaradas de outras LFG`s me terem falado nas maravilhas das ilhas e das suas praias. Um belo dia, e de surpresa como era habitual, pois nunca tinhamos conhecimento antecipado do nosso destino, após navegarmos algumas horas, não muitas, porque a distância de Bissau até as ilhas não é nada por aí além, quando dei por mim estávamos a arrear ferro em frente a Bubaque. 
Numa primeira observação, e para quem estava habituado a rios e tarrafe, estávamos no paraíso: água cristalina, areias brancas, mais brancas que as do meu Algarve, palmeiras a cairem para dentro de água com as raíses na praia mar, passarada como nunca vira, mar chão, etc, etc, etc. Igual só vi nas Caraibas, mas trinta anos depois. Na primeira viagem do pneumático a terra, lá estava eu pronto a ir, como era meu timbre, sempre na ânsia de conhecer coisa nova. E por demais já sabia que ali não havia porrada o que facilitava imenso as coisas. A primeira surpresa ao chegar a terra foi ver um tractor agricola dum modelo já antigo e, em cima, um branco que depois vim a saber ser um canadiano que lá vivia com a familia. 
Como era habitual o Manel, electricista, carregava consigo a Flobert e lá fomos os dois para o interior à caça dos pombos verdes nos mangueiros. E era com cada um que, quando o Manel lhes acertava e vinham pelo mangueiro abaixo, ao cairem no chão, era cá um estrondo que metia respeito pois os bichos eram só” xixa”. Pudera, ninguém os caçava. Lá fomos apreciando a paisagem, matando um pombo aqui, outro acolá e, de vez em quando, ao passarmos pelas tabancas, havia sempre alguém que nos cumprimentava, gente simpática, os bijagós, de fisionomia um pouco diferente dos outros guinéus mas com a mesma pobreza dos da Guiné (continental). No interior da ilha, grandes bolanhas e lagoas, bandos de papagaios cinzentos e periquitos de toda a espécie e outra bicharada que não era habitual ver nas caçadas à volta de Ganturé ou de S.João, em Bolama. Só mais tarde vim a saber que lá existiam hipópotamos de água salgada, coisa nada habitual em África. 
Terminada a caçada, o que não me apetecia nada era voltar para bordo, mas havia os pombos para depenar, comer e beber umas cocas pois cerveja não era comigo, apesar dos enxovalhos que levava da malta por ser o único que, com a cerveja, não dava lucro à cantina. No segundo dia de cruzeiro, em Canhavaque, não fui a terra porque estava de quarto à máquina, mas não perdi nada pois, com umas sardinhas congeladas, como isco, que “fanei” ao cozinheiro, ainda fiz uma sessão de pesca à linha. E era com cada bica que metia respeito! O que dava mais gozo era ver o peixe à volta da pesca pois, com uma água cristalina como aquela, até dava para escolher qual o peixe a fisgar. 
Lá continuamos pelas outras ilhas e tudo corria dentro do normal (e segundo constava era para continuar por aquelas bandas). Numa daquelas ilhas mais pequenas, aí com 1 km de comprimento por uns 600 ou 700 mts de largura, ao irmos a terra, fomos dar com uma manada de vacas, como aquelas ou até mais pequenas das que nós sacrificávamos, em favor do rancho, na ponte de Ganturé. Houve tourada, uma correria atrás dos bichos com resultado nulo a não ser um bocado de pele duma vaquita que meteu a pata numa das rochas que havia na borda de água. 
Ao voltar para bordo, então é que começou verdadeiramente a tourada: um dos geradores MAN, mais cansados do aquilo que eu estou hoje, tinha berrado com uma cabeça lixada e o outro também ia pelo mesmo caminho, com fugas e a aquecer que nem uma caldeira. Não faltou muito e ficamos sem energia. Pensei para comigo, “antes aqui do que no Cacheu ou no Cumbijã”, pois aí a coisa dava para o torto de certeza absoluta. Ora, sem energia e sem ar comprimido, o sacana do compressor também estava como havia de ir e os Mayback não arrancavam. Por ali ficamos fundeados à espera que chegasse ajuda de Bissau e, se até ali tinha sido um cruzeiro de maravilha, então sem o ruído dos geradores e sem quartos à máquina, então é que foi o máximo. O pior era a água e o rancho, mas também houve solução, sacar as tampas de visita dos depósitos e tirar a balde. No departamento do “lavascas” é que não dava pois o fogão, sem energia, não ia a lado nenhum, mas um marinheiro nunca se enrasca e tudo se resolveu até chegar o rebocador Guiné. E lá foi fazer uma parte da viagem de braço dado e depois com cabo de reboque passado até à chegada a Bissau, apreciando a viagem e fazendo umas fotos, para mais tarde recordar do que foi o melhor Cruzeiro da comissão.



O melhor cruzeiro da comissão


A estibordo, observando a manobra de reboque, o Comandante Junqueiro Sarmento e o Imediato Câmara Alves




Bissau à vista

De braço dado com o rebocador Guiné



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